segunda-feira, 11 de abril de 2016

A MINHA VIDA EM MÚSICAS




A propósito duma entrevista que dei à Rádio Universitaria do Minho, pediram-me uma lista de músicas que de alguma forma me tivessem marcado. Vantagens da sistematização, fui-me descobrindo nas melodias da minha vida. E elas aí vão.

Uma lista que é uma espécie de percurso de vida. Começo por Grândola, com que esta minha geração despertou para uma essência chamada Liberdade; éramos ainda crianças de escola primária e pudemos saboreá-la. Memórias de chegada a casa e a minha mãe no topo das escadas: “Houve uma revolução em Lisboa!”… e também um testemunho de como então se comunicava: Uma madrugada da qual só sabemos quando regressamos com o nosso pai, para almoçar.

O Siboney que aparece sem saber o que aqui faz, espécie de homenagem a um grande escritor peruano, Bryce Echenique, e ao seu livro que leio neste momento, “El Huerto de mi Amada”.

Abandono este livro e volto à cronologia das coisas: Viva a ordem! 

Rui Veloso, que aparece duas vezes, primeiro com o Chico Fininho da adolescência , marco do chamado rock português, depois em segunda vida, mais bossa nova, com Porto Covo, que muito ouvi na universidade. Também da universidade, o Grupo de Música Popular da AAUM, ao qual pertenci. Os GNR, lembrando-me concertos que organizei na Associação Académica, no velhinho Estádio 1º de maio, nessa noite mesma  que me recorda também uma mulher. Sitiados, Freddy Mercury (com “Time Waits for nobody”, que é central no despoletar da ação num dos meus livros, ainda inédito), Selvagem… uma cadência de intérpretes e músicos que me foram marcando ao ritmo dos respetivos lançamentos. 

Amos Lee surge com memória intensa duma viagem, duma loucura erótica e duma mudança de vida.

Silencio, ah, silêncio é a nossa música. Já um dia a Yvonne me tinha dito que jamais casaria sem que o dançássemos… além de que é pura Cuba.

As músicas da minha segunda pátria, o Perú. Zambo Cavero, o mais emblemático dos músicos criollos. Cesária de Évora aparece entre o Zambo e Susana Baca, como que fazendo uma ponte entre Portugal e o Peru, com a trave mestra assente em Cabo Verde… Ai Cabo Verde, Cabo Verde, és Atlântida dos que falamos português. 

Arguedas canta em Quichua, a mesma que falavam os antigos e os atuais incas, e Icaros numa língua amazónica: Cegos pelos idiomas de consumo, esquecemo-nos de que há muito mais língua na selva e nas serras do que sonha a nossa vanidade consumista. Só no Peru são 10 milhões, os que não falam castelhano em primeiro lugar, mas antes uma das 46 línguas que são tão oficiais como a dominante.

Uma sucessão de sonhos é aberta por Lila Downs, e aquece com Victor Jara e Chico Buarque, nessa carta musicada que escreveu para Portugal quando a ditadura ainda era senhora do Brasil… muitos não se lembram, como se tem visto: “A coisa aqui está preta”, cantava e bem que pode continuar a cantar o Chico. Zeca Afonso, tão atual antes como agora, esses “Vampiros”, os que surgem em bando com pés de veludo.

A doçura cortante da música de Jacques Brel, com memórias de amantes que foram, e yesterday, simbólico, mas em jeito de intervalo antes de entrar nas músicas com que todos os dias escrevo: Bach, dizem e sinto que sim, que a Barroca é a única capaz de estimular os nossos dois hemisférios, unindo assim nós connosco. E, já entrados, Mozart, claro.

Termino com Jazz, porque não há melhor forma de terminar o que quer que seja que não com jazz.



Zeca Afonso, Grândola Vila Morena
Ernesto Lecuona, Siboney
Rui Veloso, Chico Fininho
GMPAAUM, Rosa Tirana
Rui Veloso, Porto Covo
GNR, Dunas
Resistência, Selvagem
Freddy Mercury, Time waits for nobody
Amos Lee, Arms of a women
Buena Vista Social Club, Silencio
Zambo Cavero, Contigo Perú
Cesaria de Évora, Sodade
Susana Baca, Negra presuntuosa
Jose Maria Arguedas, Carnaval de Tambobamba
Icaros, Maestro
Lila Downs, Paloma Negra
Victor Jara, Manifesto
Chico Buarque, Meu caro amigo
Zeca Afonso, Vampiros
The beatles, Yesterday
Charlie Parker, Night and Day
Charlie Parker, Cheryl
Miles Davis, Now’s the time
Miles Davis, Dear old Stockholm
Miles Davis, Yesterdays



Luís Novais



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