quarta-feira, 4 de novembro de 2015

A TENDA DOS MILAGRES


Livres dos axiomas liberais, esperava que o Bloco de Esquerda fosse capaz de obrigar um PS ideologicamente esquizofrénico, a reencontrar a sua raiz política. Precisamos de mais e não de menos Estado, precisamos que a política tenha preponderância sobre a economia, precisamos que a ágora se sobreponha ao mercado. Para o altar bastou-nos Isabel, não precisamos duma Catarina.

Consta que Isabel dava pão aos pobres, coisa que a Dinis não agradava, tão zeloso era de suas riquezas conservar. O resto já sabemos: “Rosas são senhor”, espécie de anti milagre que transformou o que era útil ao estomago dos que o têm vazio, em algo apenas prazenteiro à vista dos que fruem de  preocupações muito mais sublimes do que o almoço do dia seguinte.

Caridosa e meritória, Isabel foi elevada ao altar e ficou com história para ser contada, mas não consta que tenha mudado o seu tempo rumo a uma sociedade mais justa.

Nesta diferença entre caridade e reforma social, está a distância que deve separar o Estado moderno, dum cidadão isolado; uma santa dum político.

Tantas foram as revelações dos transvios económicos das últimas décadas, que deveria ser impossível nada aprender com tudo o que agora sabemos. No caso português, basta citar alguns nomes que antes eram marcas inexpugnáveis, umas, e ascendentes, outras: BES, PT, BPN, BPP… E já nos estão a preparar para mais.

No estrangeiro poderíamos dar outros tantos exemplos que atestam quanto o descontrole da ganância pode destruir valor: Madoof, Lehman Brothers e, mais recentemente, Volkswagen.

O desafio político dos nossos dias, está em encontrar um novo equilíbrio: Entre iniciativa privada e controle estatal; entre sector público e sector privado; entre intervenção do Estado e liberdade do indivíduo; entre harmonia social e ambição pessoal.

Tão distante que está dos axiomas liberais, esperava que o Bloco de Esquerda fosse capaz de obrigar um PS ideologicamente esquizofrénico, a reencontrar a sua raiz política. Precisamos de mais e não de menos Estado, precisamos que a política tenha preponderância sobre a economia, precisamos que a ágora se sobreponha ao mercado.

Sei que o acordo entre os dois partidos não está finalizado. Reconheço que este comentário é guiado apenas pelo que vai saindo na imprensa e por alguma informação que fontes amigas me vão passando. Se tudo aquilo que se tem sabido é verdade, então não estamos perante uma negociação política na verdadeira aceção, mas face a uma distribuição de pães, eventualmente regada com algumas sinecuras para militantes.

Mais um ou menos um ponto de aumento nas pensões, descongelamentos, reposição salarial a um ritmo menos lento. Isto é querer mudar efeitos sem mudar causas. Não é política, é populismo quase à moda de Portas quando era Paulinho e das feiras.

Por esta a via, têm razão os que adivinham dilúvios desperdiçadores dos sacrifícios que foram feitos.

Resta-me a esperança de que o PCP não abdique de ter um papel político e não aceite ficar por este bodo aos pobres.

Para o altar bastou-nos Isabel, não precisamos duma Catarina.



Luis Novais

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