segunda-feira, 19 de outubro de 2015

ANTÓNIO COSTA NO SEU LABIRINTO



Neste momento, António Costa está na camisa-de-forças em que ele mesmo se meteu. Coliga-se com a direita, e perde eleitores à sua esquerda. Coliga-se com a esquerda depois dum acordo que assuste os mercados, e escapam-lhe para a direita. 


Há momentos na política que exigem uma velocidade capaz de surpreender o adversário. Nessas alturas, a mínima lentidão permite escavar trincheiras, e não é preciso recuar 100 anos para saber como estas posições imobilizam qualquer contenda.

António Costa deveria sabê-lo. Depois de fazer cair Seguro com a célebre frase da vitória por “poucochinho”, exigia-se-lhe o primeiro lugar com um resultado expressivo. Em vez disso, perde por muitos e foge para a frente tentando ser primeiro-ministro, apesar do resultado que, contra toda a previsibilidade política, sofreu.

Tendo capacidade de encaixe e jogo de cintura, poderia salvar-se com uma coligação à esquerda que, não sendo contra-natura ou ilegítima como se diz, contraria a tradição. Mas enfim, esta existe para ser rompida, haja força e argumentos para consegui-lo. Derrotado nas urnas, disposto a fazer uma aliança extraordinária, o mínimo era conseguir ser rápido, correr, galgar a onda e os adversários, antes que se abatesse, aquela, e se entrincheirassem, estes.

Não conseguiu. O PCP usou o lastro da sua experiência e disse-lhe nim: que avançasse na prancha rumo ao mar de tubarões, e que nem era preciso qualquer acordo. Quanto ao Bloco, ainda não absorveu a sua nova dimensão e, sobretudo, não tem a previsibilidade de anos e anos de jogos e de cumplicidades internas, com as inerentes interdependências. Por outras palavras, é um partido em que todos são muito livres e isso dificulta o estabelecimento de compromissos internos, tanto que Catarina teve de vir a terreiro dizer que quem fala pelo partido é ela.

Entretanto passaram 15 longos dias. Dentro do PS, barões e duques já deram o abraço de anaconda, bem explicito nas declarações de Jorge Coelho: “Tem de ser um acordo sólido e transparente. Tudo escrito e assinado”… ou seja, aquilo que bloquistas e comunistas não podem dar, sob pena de passarem para si o ónus do eclipse político no médio prazo. A estocada final está dada por Passos Coelho que, com ou sem razão, conseguiu passar a imagem do bom rapaz disposto a partilhar a bola com um adversário que, sem a ter, a quer para si. O último desafio foi muito claro: Se quer influenciar a governação, então venha jogar, não só com a nossa bola, mas dentro da nossa equipa.

Neste momento, António Costa está na camisa-de-forças em que ele mesmo se meteu. Coliga-se com a direita, e perde eleitores à sua esquerda. Coliga-se com a esquerda depois dum acordo que assuste os mercados, e escapam-lhe para a direita. Excluída, parece a hipótese de que se coligue sem que os ditos mercados se assustem: nem comunistas nem bloquistas estarão na disposição de perder a sua base eleitoral apenas para que o Partido Socialista possa nomear um primeiro-ministro.

Resta-lhe o caminho da oposição, o que salvaria o PS, mas seria o seu fim político. O partido já percebeu isto, e não é difícil supor qual será a parte mais fraca.

Para alguém que sempre se dedicou à política, imagina-se que quão doloroso poderá ser: chegar aqui e morrer na praia, depois de abandonar Lisboa e um leque de outros voos que o percurso de Jorge Sampaio bem demonstra. Quanto mais depressa António Costa cair na real, mais ganha o PS, a esquerda, a direita e o país… enfim, peso a mais para um só homem. É duro, sim; compreende-se, mas como diria outro ex-secretário-geral, “É a vida!”


Luís Novais

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