quinta-feira, 28 de março de 2013

Pedra infilosofal

Vejo-a
despegando.
Dedo seco,
voz eterna:
“Vem comigo,
tenho máquina que buscas”

Queria máquina de não ser,
de não pensar,
de não sentir.
Máquina cria,
essa de não ser.

Vejo-a.
Seu dedo é caminho,
sua voz liberdade.
“Vem comigo,
Tenho máquina que buscas”.

Pudera ir:
voar sem pensar,
sentimento não sentido.
Livre de tudo,
livre de livre.
O seu cheiro é terra, vida;
sua voz é estar.
Mas apegam-me.
E quero máquina que o seja:
onde possa entrar,
de onde possa sair.
Cobarde!

quarta-feira, 20 de março de 2013

Tudo em Pratos Limpos


Deixem-me colocar as coisas em pratos limpos: quem me lê, ouve, ou está minimamente atento ao que vou pondo nas redes ditas sociais, sabe que sou adepto de que Portugal deveria abandonar o euro e a União Europeia e fazer um trabalho de equipa, no sentido da criação duma comunidade atlântica de língua portuguesa, à qual gosto de chamar Atlântida.

O futuro da economia mundial passa muito pela ligação entre Índico, Atlântico e Pacífico, o que assegura ao mar que nos banha a manutenção duma posição charneira na ordem planetária que se adivinha.

Neste panorama, não é preciso fazer muitos cálculos para perceber o que representam as águas territoriais conjuntas de Portugal (não esquecer as ilhas), Cabo Verde, Guiné-bissau, São Tomé e Príncipe Angola e Brasil. Quem quiser que olhe para o mapa; as conclusões resultam óbvias.

Acresce que estes países somam um total de 230 milhões de cidadãos, que falam a mesma língua e que todos (uns mais que outros) têm Democracias consolidadas e na generalidade com rotação partidária. A única exceção é a Guiné-Bissau, que poderia até encontrar nesta comunidade uma fórmula para o reencontro entre os seus cidadãos e a política.

Além das águas territoriais, este Atlântico soma um território de 10 milhões de Km2 e um PIB de 2.613.000 milhares de milhões de dólares. Numa segunda fase (ou já na primeira), poderiam juntar-se-lhe Moçambique e Timor, o que elevaria a população a cerca de 250 milhões e a área a 10,8 milhões de Km2, descontando as águas territoriais, que seriam talvez a componente mais importante deste espaço cultural, económico e político. Ou seja, mais do que o dobro da União Europeia e praticamente o mesmo que os Estados Unidos.

Os que discordam de mim, costumam contrapor dois argumentos. Primeiro, dizem, a debilidade económica deste espaço tira-lhe o interesse. Segundo, o facto de ser um conjunto de países onde abunda a corrupção, por suposta comparação a outros do hemisfério Norte, nomeadamente da Europa.

O primeiro argumento parte dum pressuposto real, para uma conclusão em meu entender falsa.

É certo que o PIB per capita desta Atlântida é baixo, quando comparado com os da União Europeia ou dos Estados Unidos. Cientes disso, não nos devemos esquecer que o espaço europeu e americano estão em óbvio declínio económico, ao mesmo tempo que os países do sul estão em franca expansão.

O último Relatório Sobre Desenvolvimento Humano das Nações Unidas deixa bem claro que a dinâmica económica mundial se está a deslocar do norte para o sul. Para citar apenas um indicador, no período entre 1980 e 2011, as trocas comerciais entre países enquadrados no conceito de sul, cresceram de 8% para 27%, ao mesmo tempo que esse valor para os do norte, passava e 46% para 27%. A óbvia conclusão é que o norte está dependente do sul para crescer, enquanto o sul está cada vez mais dependente de si mesmo.

Os números da economia, também não deixam margens para dúvidas. Enquanto as economias europeias se debatem com excesso de dívida e com uma profunda crise que está a provocar um dominó recessivo, o Brasil cresce cerca de 5% e Angola 7%. É verdade que uma parte substancial deste crescimento se deve à extração de recursos naturais. So what? Não é melhor financiar o desenvolvimento com isso do que com endividamento?

Acrescente-se que o Brasil tem hoje uma dívida externa inferior às suas reservas e que em 2011 não ultrapassava 13% do PIB (97% no caso dos Estados Unidos). O mesmo para Angola, cuja dívida é superada pelas reservas cambiais e não ultrapassa 20% do PIB (120% em Portugal) . Olhando também para o Índico, Moçambique cresce a uma média de 7,6% e o endividamento não chega a 13% .

Neste panorama, o patinho feio é mesmo Portugal, onde a cegueira europeísta nos conduziu a uma dívida equivalente a 120% e a uma recessão que já vai quase nos 4 pontos.

A conclusão a tirar é óbvia. Além da posição geoestratégica de primeira importância, além da dimensão populacional e territorial, além de partilhar o mesmo idioma, o Atlântico de língua portuguesa (ou, numa perspetiva mais alargada, o espaço de língua portuguesa), é um todo em crescimento económico e com finanças mais do que desanuviadas. É claramente uma área de crescimento económico e social, onde muito está por fazer e que dispõe de condições materiais para fazê-lo. Se hoje, aquilo que estes países têm para dar a Portugal parece óbvio, o que Portugal tem para lhes dar é a sua ligação ao hemisfério Norte, é uma soberania marítima de grande dimensão que complementa a dos países equatoriais, são recursos humanos qualificados e é uma visão internacionalista que talvez ainda falte aos demais, historicamente mais voltados para a colonização interna.

Vamos agora ao segundo argumento daqueles que não concordam com esta via: trata-se-ia dum conjunto de países onde abunda a corrupção, por putativa comparação a outros do hemisfério Norte, nomeadamente da Europa.

Sem negar a corrupção que por aí há, revolta-me essa ideia feita de que no norte é tudo gente honesta e incorruptível, enquanto no sul são um bando de malfeitores corruptos. Todos conhecemos os escândalos que grassam por essa Europa. Os alemães têm vários casos de corrupção átiva e passiva de que o episódio dos submarinos é uma ponta do iceberg. Nos Estados Unidos, basta estar atento ao custo duma campanha eleitoral para somar dois mais dois… ou então acreditar-se no pai natal. E para dar apenas mais um exemplo, o último, quando eu já estava farto de ouvir que em Angola e Brasil é só corrupção. Quando eu chamava a atenção para a condenação por corrupção do ex-presidente Jacques Chirac. Quando eu, enfim, estava rouco de contra-argumentar com os maus exemplos do norte dito desenvolvido e impoluto…  ficamos hoje sabedores de que a polícia acaba de entrar pela casa de Christine Lagarde,a presidente do FMI, por suspeitas de envolvimento num escândalo relacionado com favorecimentos a Bernarde Tapie.

Decididamente, tirem-me deste filme, quero outro barco.


Luís Novais

PS: a foto, tirei-a nesse paraíso atlântico chamado Ilhas Bijagós, na Guiné-Bissau

terça-feira, 19 de março de 2013

Hoje sou cipriota, orgulhosamente


Sábado, 16 de Março, o Eurogrupo encosta o Governo do Chipre à parede. Perante a falta de liquidez da economia nacional, promete-lhe um resgate em troca do confisco de parte dos depósitos existentes nos bancos do país. 

A manobra é perigosa pelo que significa de abalo à confiança no sistema bancário (e esse intangível, a confiança, é um dos principais produtos que a banca vende), mas também pelo formato: a medida não se aplicaria através dum imposto, mas pela obrigatoriedade dos depositantes transformarem esse valor em ações dos respetivos bancos, ou seja, de os resgatarem forçadamente.

Nem faltaram as campanhas mistificadoras do costume. Desta vez, o dinheiro depositado nessas contas seria, na sua maioria, proveniente de negócios obscuros concretizados por máfias russas. O intuito é óbvio: criar a ideia de que tudo isto seria uma forma de fazer justiça.

Esta estratégia, de um populismo aterrador, chega a ser racista e equivaleria a prender todas os membros duma etnia porque, putativamente, a maioria dos seus elementos se dedicaria ao crime. Assim, sem mais nem menos, considerando todos culpados e, mesmo nos casos em que houvesse justa suspeita, sem investigar, sem considerar cada caso e, sobretudo, sem julgar.

Numa clara tentativa de manipular a opinião pública, foi o que se pretendeu fazer. Maior deturpação dos princípios de qualquer estado de Direito, não poderia haver. E o mais grave, é não ter acontecido em qualquer república das bananas, é não ter sido obra de um qualquer ditador militar acabado de chegar ao poder. Isto, acaba de acontecer na União Europeia.

Felizmente, a dimensão dos países não se mede aos palmos, menos ainda a dos seus estadistas, quando têm a sorte de os ter. Aparentemente entre a espada e a parede, os líderes cipriotas deixaram que a Europa se visse, ela mesma, encurralada. Hoje, o confisco foi a votação parlamentar e não obteve um único voto a favor.

O povo cipriota, que terá depositado as suas esperanças na adesão à União, estará agora pronto para apoiar o próximo lance: uma dramatização da posição geoestratégica do país, balanceando entre as potências que, historicamente, se confrontam por aqueles lados. Se qualquer ligação à Turquia é impossível na circunstância histórica atual, a Rússia ali está, como representante desse velho conflito entre as Europas Central e Oriental; um conflito que a História consubstanciou na divisão entre católicos romanos e ortodoxos, entre Constantinopla e Roma, entre Berlim e Moscovo, entre Kutuzov e Napoleão.  

Quarta feira, o ministro das finanças do Chipre, voa para Moscovo e Moscovo já prometeu assistência financeira ao país. Encurralada por um efeito dominó que pretende evitar a qualquer custo, tudo indica que a chanceler alemã irá perder esta partida e, com ela, uma União Europeia que se está a transformar num espaço político cada vez menos recomendável.

O pequeno Chipre acaba de dar uma lição a Portugal.

Um dos principais produtos que um país tem para oferecer ao mundo, é a sua posição geoestratégica. Enquanto o Chipre recusa a rendição e faz valer essa posição, os nossos governos insistem em não perceber que Portugal é um Chipre entre duas costas do mesmo mar. Preferem a agonia desta morte lenta e humilhante em que nos encontramos, a dar um passo que talvez seja a única garantia de que o país repetirá a façanha de fazer mais oitocentos anos.

Hoje, sim. Hoje sou cipriota; não por solidariedade, mas orgulhosamente cipriota.


Luis Novais

Foto

domingo, 17 de março de 2013

Ser é merda













 






Por que te tens,
quando poderias ser?
Por que te vens,
se poderias estar-te?
Estar-te.
Só.
Voar,
e ser céu.
Nadar
e ser mar.
Não ser;
é Ser.
Deram-me-me.
Capricho alheio:
ser-me.
Nado.
Voo,
só.

Do pó,
para o pó.
À Pacha Mama... antes
Ser sem saber,
que não ser sabendo.
Ser só.
Ser, só.
Apenas ser.
Ser merda,
é Ser, merda!

Luís Novais

sexta-feira, 15 de março de 2013

Loucura, nossa















Às Incertezas tamanhas,
tempestades de ideias.
Às ignorâncias parciais,
saberes de não saber.
Chuva que cai:
dizeres que não dizem.
Raios que ofuscam:
cegueiras coloridas.
Trovões que calam:
ouvidos que não ouvem.

Sabemos e não sabemos.
Sabemos não saber.

Molha-nos,
a chuva que cai.
Sabemos.

Ofusca-nos,
o raio que nos parte.
Sabemos.

De onde e para onde?
Quando e porquê?
De Quem para quem?
Não sabemos, não sei.

E sabemos não saber.

Somos gente:
Essa, é nossa loucura

Luís Novais

quinta-feira, 14 de março de 2013

Ser não ser


Escrevo.
É meu fazer.
Meu mar, meu ser.
Vejo e sinto e escrevo.
Nada mais.
Sei que sofro, pelo sentir;
sinto, pelo ver;
não sofro, pelo escrever.
Se escrevo,
sonhos vejo.
E se sou pelo que sinto,
se sinto pelo que vejo,
se escrevo para não sentir,
se a escrita é ver:
em letras me sou,
em letras me torno.
Sendo, não sou.

Portugal e o diálogo Sul-Sul


 

O último relatório sobre desenvolvimento humano das Nações Unidas, apresenta dados muito interessantes, pelo que traduzem das alterações que estão em processo na ordem mundial.

Entre outras, dou relevo à integração comercial sul-sul que é cada vez mais notória.

Quem vive na Europa, talvez não tenha consciência da importância que, presentemente, os austrais dão a esse diálogo, que materializam em organizações como a Cimeira Peru – Países Árabes, ou a Iniciativa de Desenvolvimento Trilateral Índia Brasil e África do Sul (IBSA), entre muitas outras.

Ao mesmo tempo, surgem diversas organizações de integração regional. Só na América do Sul, temos o Mercosul, a Comunidade Andina das Nações, o Arco do Pacífico Latino-americano e, sobretudo, a UNASUR; esta última coordenando grandes obras públicas tendentes à integração económica do continente. Uma estratégia que, refira-se, tem os olhos voltados para Ocidente e Oriente, uma vez que liga o Atlântico com o Pacífico.

A par do esforço privado, estas iniciativas estão a dar frutos e a libertar o sul da excessiva dependência económica do norte. Segundo o referido relatório, de 1980 a 2011, as trocas comerciais entre países enquadrados no conceito de sul, cresceram de 8% para 27%. No mesmo período, esta proporção entre os do norte, baixou de 46% para 27%. Ou seja, o crescimento do norte está cada vez mais dependente do sul e do sul cada vez mais dependente de si mesmo.

Estes números deveriam originar uma profunda reflexão em Portugal. A adesão à Comunidade Económica Europeia em 1986, criou uma ilusão nortenha nos portugueses. Com uma economia tardiamente saída do modelo colonial e tendo um tecido empresarial ainda habituado à proteção corporativista, a entrada na Europa foi vista como um oásis, capaz de integrar o país numa grande zona económica e de o fazer entrar sem esforço num modelo capitalista e liberal com pendente social. Infelizmente, a par com o próprio modelo e com a quebra da sua parte social, o oásis transformou-se numa miragem.  

Mais do que seguir respeitosamente uma cartilha económica que lhe está a ser imposta, Portugal deveria refletir sobre a sua própria História e sobre o papel que pode e quer ter no mundo. Subitamente, ser o país europeu mais próximo do sul, poderá deixar de ser periférica posição, para se transformar numa das centralidades do novo diálogo: o diálogo sul-norte, que se imporá porque, obviamente, um sul em expansão económica e cultural, exigirá diálogo onde anteriormente havia imposição e arrogância.

Afastarmo-nos politicamente do norte e aproximarmo-nos do sul, é uma opção que poderá fazer a quadratura do círculo: liga-nos ao norte porque nos liga ao sul e liga-nos ao sul porque nos liga ao norte.

Já aqui defendi: soltar o nó górdio da União Europeia e aproximarmo-nos politica e economicamente do Brasil e de Angola, será talvez a única forma de estarmos bem na Europa.


Luís Novais

quinta-feira, 7 de março de 2013

Na Morte de Hugo Chavez



Não podemos dizer que em Portugal se tira aos pequenos para dar aos grandes e depois criticar Chavez por fazer o inverso. Esperava-se que esses grandes não reagissem? Não, não se esperava e reagiram de forma brutal. Mas a paráfrase impõe-se: “Aguentam? Ai aguentam aguentam”.

Morreu Hugo Chavez. Alvo de controvérsias em vida, a morte não o poupa.

Nesta sociedade pós-moderna, em que se constrói a verdade a partir da palavra infinitamente repetida, convém talvez analisar a História como ela foi.

Eleito Presidente pela primeira vez em 1999, Chavez foi um homem com coragem para inverter toda a lógica do sistema económico em que vivemos: em vez de utilizar os recursos do país para garantir ganhos a uma classe de grandes empresários parasitários da riqueza nacional, distribuiu essa mesma riqueza por uma população que vivia miseravelmente. Em resultado, ao mesmo tempo que os ganhos dos 10% mais ricos diminuíam, baixava a taxa de pobreza de todo o país. "Judas foi o primeiro capitalista", ouvi-lhe uma vez.

Há quem o critique por esta opção. Há quem diga que os pobres estão a ser subsidiados e que assim não querem trabalhar. Muitos dos que o dizem, são os mesmos que deixaram de ter negócios facilitados pelo Estado e, subsidiado por subsidiado, prefiro os mais necessitados do que esses outros: os que iam de jato privado depositar em Miami um dinheiro extraído da Venezuela com a facilidade dos que traficam influência. Esses mesmos que, ainda por cima, são os primeiros a bater no peito contra o Estado, pelo liberalismo e pela concorrência.

Não podemos dizer que em Portugal se tira aos pequenos para dar aos grandes e depois criticar Chavez por fazer o inverso. Esperava-se que esses grandes não reagissem? Não, não se esperava e reagiram de forma brutal. Mas a paráfrase impõe-se: “Aguentam? Ai aguentam aguentam”.

No rol de controvérsias, outros reconhecem a Chavez o alcance social, mas criticam-no por ditador.

Esquecem-se de que foi eleito quatro vezes em escrutínios cuja veracidade democrática não é contestada (o último dos quais bastante renhido). Que alterou uma constituição anacrónica, mas pela via mais democrática possível: um referendo em que teve 71% de votos favoráveis. Que teve de enfrentar contestação na rua e não a reprimiu. Que sofreu um golpe de Estado (esse sim anti-democrático), apoiado pela CIA e provavelmente por Aznar. Quem não tem memória do famoso porqué no te callas, com que o monarca espanhol procurou calar-lhe esta denúncia? Um golpe que, diga-se também, foi fortemente apoiado pelas televisões privadas venezuelanas que ele, em resposta, silenciou. As mesmíssimas televisões, dos mesmíssimos grupos económicos, que depois tentaram aparecer como vítimas.

No plano internacional, ao mesmo tempo que alguns líderes europeus andavam de beijos e abraços a George Bush e apoiavam a maior mentira do século, Chavez denunciava a morte de civis no Afeganistão e no Iraque, por responsabilidade criminal desse outro presidente que, agora sim, fora eleito de forma mais do que suspeitosa. Picarescamente, chegou a chamar-lhe diabo e a denunciar-lhe um alegado odor a enxofre que não sei se é ou não verídico, porque tenho a felicidade de nunca ter estado perto do sinistro personagem.

O homem que acaba de morrer teve coragem para enfrentar alguns dos poderes internos que são responsáveis pelo que a Venezuela teve e tem de pior. E sobrou-lhe coragem também para enfrentar alguns dos poderes externos que são responsáveis pelo que o mundo teve e tem de pior. Impediu que uns poucos ganhassem o que era e é de um povo; impediu que, em Washington, umas tantas cabeças tratassem a Venezuela como se haviam habituado a tratar a América Latina no seu todo.

Não teve falhas? Caramba, claro que sim. Desconfio que se considerava providencial, ainda que estejamos a falar duma região em que o caudilhismo tem fortes raízes históricas. E falhou, isso sim, na vertente da segurança interna: a Venezuela é, hoje, um país com mais insegurança civil do que aquela que tinha antes da sua chegada ao poder.

Isto não lhe retira um saldo que vejo claramente positivo. A Venezuela que Hugo Chavez nos deixou é um país com mais justiça social e, nos dias que correm, esse é um grande feito.

Por tudo isto, não tenho qualquer dúvida de que o homem que acaba de morrer conquistou a pulso um lugar na imortalidade dos que, ao contrário dele próprio, são agnósticos: a História.


Luís Novais