sábado, 25 de agosto de 2012

ALTERNATIVAS À ECONOMIA FINANCEIRA, OU, EM BUSCA DE PARADIGMAS PERDIDOS

“Esse porco filho da puta pode, por exemplo, fazer com que a tua produção de trigo se valorize ou desvalorize dois anos antes de sequer ser semeada. Na verdade, pode comprar-te, sem que tu saibas da operação, uma colheita inexistente e vendê-la a um terceiro, que a venderá a um quarto e este a um quinto, e pode conseguir, de acordo com os seus interesses, que durante esse processo delirante o preço desse trigo quimérico dispare ou se afunde sem que tu ganhes mais caso suba, apesar de te deixar na merda se descer.“
 
Assim se refere o articulista do El Pais Juan José Millás à economia financeira, num texto que incendiou as redes sociais espanholas e que a “Dinheiro Vivo”acaba de traduzir e publicar (ver artigo completo).
As reações dos leitores portugueses não tardaram, umas emotivamente a favor e outras cegamente contra. Vejamos o que se diz: “Há um bom motivo pelo qual se compram futuros, e vem exactamente do exemplo da produção de trigo: o agricultor antes de colher a plantação já tem necessidade de alimentar a família, portanto tem de conseguir vende-la antes de a ter colhido.” Outro leitor pergunta: “A verdadeira questão: qual é a solução? Qual o melhor sistema a seguir ao melhor por defeito? Já não vale reclamar”.
Ao longo da História foi sempre desta forma que os donos dos sistemas dominantes afirmaram o seu poder. É célebre o discurso das mãos e do estômago com que Menénio Agripa procurou convencer a plebe romana. Podemos imaginar semelhante argumentação num industrial de Manchester oitocentista falando aos seus operários quase mortos de fome: “agora que fostes expulsos dos vossos campos, só eu vos posso garantir que a fome não seja completa”. Ou dum senhor feudal: “se eu não vos organizo quem vos vai defender dos inimigos que nos podem atacar?” No fundo, o argumento foi e é sempre o mesmo: “podemos não ser bons mas não tendes alternativa”. A História sempre se encarregou de lhes tirar razão: tal como nas pessoas, não há sistemas insubstituíveis.
Ninguém se lembrou de dizer ao Senhor feudal que se poderiam organizar num sistema democrático, assim como ninguém disse a Agripa que estava a meter as mãos pelos estômago porque a sociedade poderia ser mecânica e não orgânica, para usar os conceitos de Durkheim.
Hoje, fazem-nos crer que não há alternativa a esta economia financeira que, dominando a produtiva, nos domina a todos. Apostam no medo, no horror ao vácuo que se produz ante a possibilidade de, a este mal, se suceder mal pior que é o vazio. Procura-se até confundir Ocidente com capitalismo, como se o fim deste fosse o fim daquele; uma óbvia mentira se considerarmos que temos séculos de cultura ocidental e apenas 200 anos de capitalismo como sistema dominante.
Mas sim, a pergunta é essa mesma: o agricultor tem de comer antes de colher o trigo e pode morrer de fome se a colheita for má. Que alternativa a uma economia financeira que é também uma almofada (ainda que de cimento) para este risco?
As respostas são fáceis. Se não as encontramos é tão só porque costumamos sofrer de dois centripetismos: o cronológico e o cultural. O primeiro apenas nos permite ver o nosso tempo, o segundo impede-nos de buscar soluções fora da nossa cultura.
 
O que nos ensina cronos?
Ensina-nos que a humanidade sempre foi capaz de encontrar soluções. Já aqui abordei este tema (A Grande Apropriação,ou a Falácia do Estado Social): perante a desproteção social completa em que se encontravam os primeiros operários do Sec XIX, estes souberam aproveitar a tradição comunitária que traziam do mundo rural e auto-organizaram-se em sociedades mutualistas, capazes de lhes garantir alguma estabilidade.
Em Inglaterra, por exemplo, as Friendly Societies contavam com 1 milhão de sócios em 1850 e 4 milhões em 1872. Em 1913, na Alemanha, 16 milhões de operários estavam associados em diversas caixas de invalidez e velhice (Y. Lequin). Igualmente fruto da auto-organização daquilo a que hoje chamaríamos “sociedade civil”, foram surgindo inúmeras cooperativas de consumo que pretendiam salvaguardar produtores e consumidores dos ataques especulativos e garantir, assim, um controlo sobre o preço dos bens de consumo. Por volta de 1860, esta tendência alargou-se ao crédito com o aparecimento de associações de crédito mútuo, com origem na Alemanha.
É deste movimento e do seu exemplo que mais tarde o Estado se aproveitará para começar a criar aquilo em que nos nossos dias se tornou a mastodôntica burocracia social (C Ward).
Se as coisas tivessem seguido o seu rumo natural, a segurança social estaria agora a ser gerido por pequenas e médias organizações mutualistas de âmbito territorial ou social, com uma profunda ligação aos seus utentes, porque por eles criadas, geridas e controladas. Organizações que, tanto pela sua dimensão como pela proximidade ao utilizador, teriam, como tiveram no passado, uma estrutura burocrática muito leve.
Mas, é claro, com esta fórmula não se teria dado emprego a uma elite político-partidária cada vez mais ávida e, na fase em que estamos, não se encontrariam argumentos para que, por ingovernabilidade do sistema, o Estado pudesse entregar de mão beijada a nossa assistência social a grupos económicos cujos cadastros não nos deveriam deixar nada descansados.
 
O que nos ensinam outras culturas?
Socorro-me dum só exemplo: as culturas andinas pré-hispânicas, normalmente englobadas no conceito de Império Inca. Antes da chegada dos espanhóis em 1533, esta região era talvez a mais avançada do mundo dos pontos de vista social, alimentar e, arriscaria até, científico.
Apenas num ou dois aspetos estavam atrás da Europa de então: o primeiro e central foi o militar, o segundo, talvez o da filosofia/teologia. Foi com o primeiro que foram dominados e foi com o segundo que foram colonizados. Isto não obstante os seus claros avanços nas demais áreas, bastando recordar o que aconteceu à demografia europeia quando aqui chegaram as espécies agrícolas desenvolvidas e melhoradas no mundo andino.
A economia dos incas era profundamente rural e obviamente que padecia dos riscos naturais inerentes: secas, cheias, desastres… e no entanto não havia fome nem subnutrição. Porquê? Primeiro porque o usufruto da terra era privado mas a posse era comunitária, ou seja, quando alguém morria a terra voltava à comunidade e quando alguém chegava à idade de trabalhar a comunidade entregava-lhe um campo para que dele usufruisse. Com isto, garantiam um elevado nível de igualdade social (ainda que no âmbito duma sociedade que não era igualitarista). Garantiam também que heranças sucessivamente divididas não depauperassem o ciclo geracional e, já agora, que a transação não resultasse em bolhas especulativas que levassem alguns a destruir a riqueza de quase todos.
O melhor que o Ocidente desse tempo conseguiu para responder a estes riscos foi a injustiça do morgadio e dos bens de alma… julgo que estamos conversados.
Mas o que mais me interessa enfocar é o sistema de segurança alimentar mútua: cada família entregava uma parte da sua produção para celeiros comuns que asseguravam que uma boa colheita numa região pudesse acudir a uma má colheita noutra… ou seja, já nesse tempo garantiam a segurança alimentar sem precisarem de se submeter à caridade ou de se sujeitarem a essa almofada de cimento que é o mercado de futuros.
 
Uma alternativa à economia financeira.
Em conclusão, é obviamente falacioso o argumento daqueles que dizem que não temos alternativa à financiarização da economia e que este modelo de capitalismo é o melhor dos mundos possíveis. Todos os regímenes dominantes argumentaram que estavam a oferecer esse tal melhor mundo e todos caíram.
A base da economia tem de voltar a ser a produção e, se perdermos a cegueira que nos impede de olhar para a História e para outras culturas, há claras alternativas ao modelo em que estamos a viver. Basta que pensemos mais em cooperação e menos em competição, mais em solidariedade e menos em caridade, mais em mutualismo e menos em assistência. Em suma, o segredo está em usarmos a entreajuda para que o risco deixe de ser um produto transacionado, um produto que depaupera muitos e enriquece alguns.
Só não vê quem não quer… ou quem ganha com isso.
 
Luís Novais

 

  

 

 

terça-feira, 21 de agosto de 2012

A PROPÓSITO DE “AMOR E LIBERDADE DE GERMANA PATA ROXO” DE FERNANDO ÉVORA


Acabo de ler “Amor e Liberdade de Germana Pata Roxo”, de Fernando Évora.

Sete histórias aparentemente desconexas, aparentemente dispersas, mas com grande unidade na mensagem e nas preocupações que relevam. Nem de propósito, interrompi a leitura das memórias de Raul Brandão para iniciar este livro. Em cada conto, vinham-me à memória as suas palavras: “A necessidade de transigir, o preceito, a lei, fizeram de mim este ser inútil, que não sabe viver”. Esse mesmo, parece ser o drama das personagens que Évora nos apresenta: ou transigem na fatalidade do destino, ou pagam o preço de contrariar preceitos e lei.

Trata-se duma obra sobre a saudade, não do que as coisas foram, mas do que poderiam ter sido. Todas as personagens vagueiam entre acasos e opções que lhes vão criando destino. São acasos e opções que os levam por caminhos sem retorno, que os conduzem a vidas, umas vezes muito diferentes, outras vezes sempre iguais. Évora narrador vê-se a si mesmo neste turbilhão de possibilidades que o andar dos tempos tornou impossibilidades e, mais de uma vez, interroga-se como seria se outro tivesse sido o caminho.

Percebe-se neste “Amor e Liberdade” uma força contida, uma energia que Georges Bataille diria impossível de guardar, mas que se acumula. E essa energia, porque impossível de guardar, vai carcomendo personagens e narrador em revoltas internas e sonhos por cumprir.

Lemos e ressoa-nos a incomodidade do conformismo. Quem, como eu, tem o privilégio de conhecer o escritor além da escrita, perceberá que esse sentir transcende a obra. Não será por acaso que, muitas vezes e indelevelmente, nos confundimos e quase temos a satisfação secreta dos voyeurs.

Mas a obra é, neste caso, muito mais do que o seu autor. Nesta série de contos desfila-nos o drama que hoje enfrentamos, não só em Portugal, mas no Ocidente. A questão literária deste livro é igual à questão histórica que se nos coloca: o que fazer com a energia que ainda temos? Aprisionarmo-nos na raiva contida, ou insubmetermo-nos em amor e liberdade?

Não sei e Fernando Évora parece não dar resposta. Mas sabemos que toda a mudança exige um acumular de forças, uma contenção. Até que um dia os diques deixam de suster. É nesses momentos que tanto podem acontecer coisas inesperadamente bonitas, como inesperadamente feias. Que sejam bonitas, pois “Amor e Liberdade de Germana Pata Roxo” também é um livro de esperança.

Uma nota final: pensando em "Gente Singular" de Teixeira Gomes, pergunto-me que raio terão os algarves para que os algarvios sejam assim, exímios na arte do conto.

Ligação à obra, clicar aqui

Etiquetas: Fernando Évora, literatura portuguesa.



sábado, 18 de agosto de 2012

ENTRE O PESADELO EUROPEU E O SONHO ATLÂNTICO

Em entrevista ao Le Monde noticiada pelo PÚBLICO, Francisco José Viegas não fugiu ao tema europeu. Num acesso de coragem assumiu que o rei vai nu no que respeita à nossa presença na União Europeia. “Perdemos a nossa agricultura, a nossa pesca e a nossa indústria já pouco conta. Só nos resta a nossa cultura e o mar como oferta turística”, diz. É um governante quem o afirma, o que lhe poderá custar caro num Governo que se tem mostrado completamente submisso aos ditames de Berlim, mas os portugueses reconhecerão a coragem, assim não venham os habituais desmentidos e desdizeres.

Há muito que me interrogo sobre a nossa opção europeia, uma interrogação que era difícil no tempo em que ainda choviam os euros e o crédito fácil com que ajudamos a engordar o orçamento alemão. Portugal está no extremo do continente e deve a sua existência enquanto país e a sua construção enquanto nação, ao facto de ter teimado em não ser Europa. Ao contrário de Espanha, nunca tivemos ambições europeístas e, no único momento em que nos arrastaram para esse cenário, afundamo-nos em armadas que se diziam invencíveis e fomos atacados além-mar por essa mesma Europa, cuja História é uma câmara de horrores e de conflitualidade permanente.

O mar nos fez e o mar aí está como salvaguarda de muito mais do que praias e turismo. Para onde vão hoje os nossos quadros mais qualificados, se não para Angola e Brasil? Não há ilações a tirar desse movimento?
Subitamente, volta a fazer sentido esse velho sonho que teve D João VI: criar uma união ultramarina que se sobrepusesse ao modelo colonial. Portugal, Angola e Brasil, Cabo Verde, Guiné e São Tomé, têm hoje nas suas mãos a possibilidade de criar um dos fenómenos políticos do Sec. XXI: uma União Atlântica, a Atlântida.

O mundo mudou. O aparecimento de potências emergentes faz com que a questão do desenvolvimento já não se processe nessa relação entre um Norte rico e um Sul pobre. A ligação longitudinal entre o Atlântico e o Pacífico emerge, como o Brasil bem sabe, em razão do que está a aprofundar a sua integração rodoviária e portuária com o Peru. E lembro isto, ainda que para mim a questão não seja económica mas cultural, que eu sou daqueles que pensam que a economia deve ser submetida a outros valores.

O Portugal de 1820 não esteve à altura do que se estava a preparar e, com isso, os portugueses puseram-se a jeito para todas as humilhações que se seguiram, incluindo terem vivido em ditadura quase metade do século XX, incluindo a teimosia colonialista dessa mesma ditadura e incluindo a mão estendida à Europa com que temos vivido.

Em 1820 desperdiçamos a oportunidade de, em pé de igualdade com o Brasil, impedirmos um século XIX unipolar inglês. Em vez disso, preferimos voltar a impor uma economia colonialista a que, obviamente, a colónia não se submeteu.

Termino com palavras de Viegas na citada entrevista. “Acredito que a nossa relação com a Europa não é feliz porque uma parte essencial das nossas raízes continua em África e no Brasil... Com a crise, muitos regressaram para lá”. Touché.

 
Ligação: http://www.publico.pt/Cultura/francisco-jose-viegas-diz-que-os-portugueses-tem-medo-do-futuro-1559429#

sábado, 11 de agosto de 2012

Aguarela Neoliberal em Café Risso

O Risso fica na Av. do mesmo nome, em Lima-Peru, e tem um dos melhores cafés expresso que já tomei. O espaço é pequeno e não tem cadeiras ou mesas. Pedimos ao balcão e somos empurrados para a rua pela fila daqueles que esperam pela sua vez. Em frente ao café Risso há uma velha que tem um quiosquezinho ambulante onde vende tartes de maçã e uns bolinhos muito bons que ela própria faz. Nas costas da velha passam mini-autocarros, cada um com seu cobrador à porta que apregoando destinos procura angariar passageiros. Ao lado da velha há um homem enrugado pela poluição que aponta a hora a que passa cada um e diz aos cobradores dos seguintes o tempo que os separa dos anteriores. Ao lado desse homem que aponta há uma mulher com um cartuxo de caramelos que entra nos autocarros e os vende aos passageiros. Na fila do café Risso há pequenos executivos e empregados de comércio remediados.

Assim é.

Enquanto saboreio o meu expresso no passeio, olho para a velha que vende bolos e para o apontador de horários que vende informação e para a mulher do cartuxo que vende caramelos. A história das suas vidas não é difícil de adivinhar. Terão nascido numa comunidad campesina algures nos Andes ou na selva amazónica. As suas terras terão sido ocupadas por um projeto mineiro, ou tiveram as águas com que regavam os seus campos poluídas por esse mesmo projeto, ou qualquer outra coisa do género. Ouviram um desfiar de histórias que eram comprovadoras daquilo que viam na televisão: na capital teriam oportunidades imensas. Vieram. Anos depois, continua a vender bolos na rua, a velha, a apontar horários à frente de escapes negros, o homem, e a saltar de autocarro em autocarro para vender caramelos, a mulher. O cobrador continua a apregoar destinos e o condutor continua a conduzir.

Um dia, alguém vai dizer que em nome do progresso o Estado não pode permitir tamanha informalidade, que até é um risco para a saúde. Algumas notícias vão enfatuar isso mesmo. Meia dúzia de comentadores mostrar-se-ão escandalizados e oito acidentes rodoviários e alimentares vão passar oitenta vezes nas TV’s, nessa alquimia do oito em oitenta. Vozes acreditadas dirão que “é por isso que as coisas estão assim” e que “os políticos não fazem nada”. Por fim, os políticos legislarão, até porque muitos deles são a mesma carne e osso dessas vozes.

Depois disso, o inspetor duma qualquer autoridade vai expulsar a velha da rua, multar o condutor do autocarro e proibir a mulher de vender caramelos. Todos voltarão a mudar de vida que uma vida assim não é vida não é nada. A velha vai morrer de fome, o apontador vai para segurança dum hipermercado e a jovem dos caramelos será caixa nesse mesmo hiper. O cobrador ficará desempregado e os condutores terão de se desfazer dos seus velhos autocarros, indo metade deles trabalhar uniformizados numa grande empresa de transportes. Essa empresa vai pertencer ao mais expedito de entre eles, que esse vai partilhar os ganhos com o político que autoriza as novas concessões e será apoiado por um banco que vai financiar tudo. Pouco depois, todos os utentes estarão a pagar mais para se transportarem, até porque agora já não há concorrência desleal e a companhia concessionária tem o dever de remunerar condignamente o capital do seu investidor.

Quanto à metade desempregada dos condutores, essa vai servir para que a metade empregada aceite trabalhar cada vez mais por cada vez menos. Os cobradores vão dedicar-se a arrombar caixas de multibanco e os seus filhos serão abatidos pela polícia ou metidos na prisão porque andam a roubar cidadãos ou a passar droga nas esquinas. A mulher dos caramelos continuará na caixa do hipermercado e o ex-apontador que ainda é segurança engravidou-a e ambiciona entrar para polícia e ser um desses que abate os filhos dos outros.

Assim será.

Até que um dia, oito acidentes da ex-novel companhia de transportes serão transformados em 80 pela TV e em nome do progresso alguém vai dizer que o Estado não pode permitir tamanha insegurança. Todos os noticiários enfatuarão isso mesmo e meia dúzia de comentadores dirão que “é por isso que as coisas estão assim” e que “os políticos não fazem nada”. Por fim, os políticos legislarão, até porque muitos deles são a mesma carne e o mesmo osso dos comentadores.

Depois disso, o inspetor duma qualquer autoridade vai começar a multar a companhia, que é incapaz de fazer os avultados investimentos que lhe são exigidos pela nova lei. O proprietário suicida-se e todos os bens passam para o financiador, que vai apostar num antigo funcionário dessa empresa, cujo se mostra tão diligente e empreendedor que criará uma transportadora que segue as novas regras e que continuará a velha tradição de partilhar os ganhos com esse mesmo político de quem já aqui falamos…

Por último, claro que todos fizeram como fizeram porque são livres e as coisas foram como foram porque foi o mercado.

Eu? Eu já terminei o meu café que acompanhei com um dos bolinhos daquela velha. Comprei um caramelo à mulher do cartuxo e entrei num mini-autocarro; escolhi aquele que me levasse para mais longe.

Luís Novais

Etiquetas: neoliberalismo, capitalismo, sociedade de consumo





domingo, 5 de agosto de 2012

O "EU" COMO SHARE

Menos de vinte dias depois do assassino de Denver matar 14 pessoas numa antestreia cinematográfica de Batman, ligo a televisão e em direto fico a saber de mais um massacre, desta feita em Wisconsin: um atirador acaba de entrar num templo Sikh e está a disparar sobre os crentes. Dois casos que são a espuma dos dias do imenso rol de serial killers que as últimas décadas produziram. Já não são necessárias ameaças externas: o terror mora cada vez mais na casa ao lado.

Num momento em que se acentuam as clivagens do nosso modelo económico e social, será útil debater o porquê destes fenómenos.

A nossa “aldeia global” está a tornar-se cada vez mais em substituto do absoluto perdido. Essa nostalgia de que nos fala George Steiner: a mitologia de cariz mágico e religioso foi substituída por um modelo de racionalidade científica, mas esse modelo mostrou-se incapaz de nos devolver a integração. Seremos a única espécie que tem esse problema, recorda Damásio: sabemos que somos, temos uma memória autobiográfica, criamos um personagem “eu”. Mas essa consciência de “mim” arrasta a consciência de “ti”; o “eu” nasce ao mesmo tempo que o “outro” e assim surge a mais humana das angústias, a da unidade perdida.

A incapacidade da ciência para nos dar terra firme neste mar agitado, conduziu-nos à pós-modernidade: matando-se a transcendência, matou-se a Verdade. Saudosos ainda que descrentes, substituímo-la pela palavra, pelo discurso, pelos modelos comunicacionais que, bem geridos por alguns, procuram imprimir uma verdade que é construída em cima desse ser inconsequente chamado Opinião Pública. A dialética política dos nossos dias é isto mesmo, ainda que levado às últimas consequências.

Paulatinamente, a verdade substituiu a Verdade e, perdido o helénico absoluto, a integração do “eu” procura cumprir-se na vontade de ser uma ideia em pensamento alheio. Há uma corrida louca pela invasão desse território impalpável, há uma guerra constante pela ocupação dum espaço que seja nosso nessas mentes que são de outros.

Marketing, marca, Comunicação… o criador é assimilado pela criatura; técnicas pensadas para produtos transformam-se numa nova eucaristia que deturpadamente nos resolve o problema ontogénico. Metamorfoseamo-nos em coisa e passamos a ser o que formos no outro. O que interessa é ser no outro. Voltar ao absoluto estando no pensamento do outro. Ter um share mental. Ser conhecido.

Até que, subitamente, um homem pega numa arma e mata 14 pessoas num cinema. Outro entra num templo e na altura em que escrevo ainda não sei quantas matou.… Surpreendente? Não, apenas dois casos de patologia extrema num modelo de sociedade que está profundamente doente.

Luís Novais

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

MUERTE EN LA AMAZONIA



Niños en Camaná
Abril, 13. Camaná, comunidad indígena Matsigenka en la Convención. Muere Edmer Matias, 14 años. En los 30 días siguientes, seis niños más. Casi 200 adultos adolecen con síntomas idénticos. Algunos son considerados en situación crítica. Camaná tiene 486 habitantes.

Una alerta tardía llega a las autoridades centrales de salud, cuando dos niñas son evacuadas para Lima. Una de ellas es Medali, 9 años, la otra es Laura, 3 años. Ambas mueren, Medali el 12 de Mayo, Laura el 20.

“Nos notificaron sobre dos casos de sintomatología compatible con rabia silvestre”, me dice A, Directora Ejecutiva de la Dirección General de salud Ambiental (DIGESA), “mandamos un equipo a la comunidad y concluimos por la existencia de otras situaciones con la misma sintomatología”. Estamos hablando de una posibilidad o de una certeza? “Un caso está confirmado por el Instituto Nacional de Salud”, me responde.

Conozco el informe: el de Laura es el único. Hay también un análisis al líquido cefalorraquídeo de Medali, sacado el 10 de Mayo, dos días antes de su muerte: “presencia de anticuerpos IgM, IgG. Muy sugestivo de rabia.

Un día después de morir, embalsaman el cuerpo de Medali y en 24 horas lo envían de regreso a la amazonia. Y así se graba un epitafio colectivo: “causa de muerte: probable rabia”.

Sin embargo, el asunto despertó la atención de algunos congresistas. El 22 de Mayo, el Viceministro Percy Minaya va al Congreso de la República y afirma: “la muerte de los niños de Camaná fue provocada por rabia”. Minaya descartaría también cualquier relación entre los fallecimientos y la contaminación de las aguas por gas natural líquido. La tesis oficial es que la enfermedad fue provocada por la mordedura de murciélagos infectados.

Gas natural. De qué contaminación habla el Viceministro?

“En la mañana de hoy lunes 12 de marzo (2012), el Grupo de Vigilancia reportó indicios de hidrocarburos a la altura del KP 56, en la Reserva Comunal Matsiguenka”. La declaración consta de un comunicado de la Transportadora de Gas del Perú (TGP).

Cerca del local de la fuga: el Paratori, río en cuyas márgenes está la comunidad de Camaná, dónde viven Medali y los otros seis niños.


Embarco en el ultimo instante
 Tomo conocimiento del caso en Quillabamba, sede provincial. Camaná se interna en la selva, a unos 200 Km de distancia. Para llegar allá, cuatro días a pie y en pequeños barcos. Me intereso por el caso y me preparo para ir a la comunidad. Listo para partir, se de un helicóptero que va salir con ayuda humanitaria y, en el propio momento de la partida, consigo autorización para embarcar. Gano ocho días y evito un montón de picadas de mosquitos.


 Qué pasó en Camaná?


“estaban ácidos y sabían a petróleo”
“Los animales del río aparecieron muertos, primero taricaias (espécie de tortuga), carachamas y camarones. Continuamos pescando y comenzamos a enfermar”, me dice un comunero. Pero, “los peces estaban ácidos y sabían a petróleo”, me garantiza Rubén Mavique, el jefe de Camaná.

Hago preguntas. Los síntomas? “Fiebre alta, dolores de estómago seguidas de vómitos, diarrea y mareos”. “Si, son síntomas también compatibles con un cuadro de intoxicación por hidrocarburos”, me respondería en Lima una técnica de la DIGESA. Opinión compartida por la Dra. B, del Instituto de Medicina Tropical: “En una fase inicial los síntomas de una intoxicación son fácilmente confundidos con los de rabia”. Y podrían llevar a la muerte? “Vómitos y diarreas pueden provocar una deshidratación que podrá ser fatal para uno o más sistemas vitales”. Pregunto aún si una deshidratación podrá provocar síntomas neurológicos identificables con rabia: visiones, miedos, comportamientos impulsivos. “Como cualquier otro órgano, el cerebro es afectado por la falta de líquidos. Por eso, la respuesta es que si, puede”. Además de eso, me dice el Prof. C de la Universidad Y, “una de las consecuencias inmediatas de una intoxicación con gas natural puede ser una encefalopatía”.

“Ellos nos garantizan que no fue de la contaminación por gas”, me dicen en Camaná, “aseguran que fue de la mordedura de murciélagos con rabia. Pero los peces murieron y los murciélagos no nadan”

“La única forma de confirmar un cuadro de rabia es con una autopsia”, me dice también la Dra. B, “con todo, confrontando el análisis inconcluso de Medali con su cuadro sintomatológico y el hecho de que Laura tiene un diagnóstico confirmado, los más probable es que haya tenido rabia”.

La cuestión está en los demás casos. Un tercer niño, también evacuado para Lima, no fue sometido a cualquier examen y relativamente a otros cuatro “que fallecieron en comunidad, en establecimientos de salud de Cusco, en quienes no se pudo obtener muestra, también quedaron como casos probables” (D. G. Epidemiologia). Y qué decir de los 200 nativos que presentaban síntomas idénticos? “Rabia no podían tener”, me dice B, “porque están vivos y la rabia es incurable: después de manifestarse mata en un plazo máximo de 10 días”.

Yo había hablado con Felicia Arias, la mamá de Medali. “Mi hija fue transportada por TGP para el hospital Guillermo Almenara en la capital”. Ya en Lima, Felicia comienza a sentir los mismos síntomas. Le recetan análisis de despiste que confirmé que fueron realizados. Por razones de confidencialidad médica no consigo que me entreguen el resultado; ni sería necesario: si fuera rabia, Felicia no estaría viva.

Las quejas que oigo en Camaná son generalizadas y coinciden con un reporte del Director del Programa de Monitoreo Ambiental: “Algunos comuneros manifestaron non creer en la información dada (…) y recordaron que en el incidente ocurrido en el año 2005, la empresa les manifestó que no había ocurrido nada grave, cuando realmente hubo una rotura del ducto”. Dijeron también que la empresa había tardado tres días en comunicarse con la población y quizás “primero quiere arreglar y limpiar todo para que la comunidad no se dé cuenta de lo sucedido”.
                                                                                     
Gas versus indígenas

 
Planta de gas de Kamisea en la selva
“hay muchas presiones para que entreguemos cada vez más gas, y las tuberías no aguantan”, me dice una fuente de la empresa. A esto se acrecienta la mala construcción del propio ducto: “Los tubos están mal soldados y la dinámica geológica, aliada a la sobre utilización, hacen que se fisuren”.

Estos accidentes han provocado reacciones populares. En el 2010, una manifestación en La Convención fue brutalmente rechazada por la policía. De Cajamarca a Espinar, la industria extractiva está siendo el principal foco de conflicto social en el país. La última cosa que el gobierno precisa es que esta industria haya provocado un desastre ambiental en la amazonia con casi 200 presuntas victimas, algunas mortales.

Las negaciones de la empresa

Logo de TGP
Contactada la empresa, me fue entregado un informe ambiental que confirma la fuga pero niega la contaminación del rio Paratori y de la respectiva fauna. La TGP se fundamenta en los análisis efectuados en 8 puntos de monitoreo, de los cuales uno estaba 200 metros abajo y otro 200 metros arriba de Camaná.

La primera muestra fue recogida cerca de 28 horas después de detectado el derrame y ya con las medidas de contención en curso. Se detectaron elevadas concentraciones de hidrocarburos en los dos puntos que quedaban más cerca del incidente: para un límite máximo aceptable de 0.05 mg/L, se observaban concentraciones de 12.00 y 17.19 en los días 13 y 15 de Marzo. A partir de esta fecha, las concentraciones comienzan a bajar considerablemente, fruto de los trabajos de contención y remoción. En el día 16 de Marzo ya se registraban apenas 1.3 mg/L. y a 22 se lograba el límite máximo aceptable de 0.05 mg/L. Exceptuando estos dos puntos de monitoreo más cercanos de la fuga, desde el inicio que todos los demás indicaron niveles de concentración inferiores al máximo aceptable.

Por último, el 18 de Marzo son recogidas muestras de peces cuyos resultados preliminares no serán reveladores de la presencia de hidrocarburos. La empresa no me entregó los definitivos y tampoco hay resultados oficiales, al contrario del caso del agua, cuyas muestras DIGESA también analizó.

Con todo esto, Rafael Guarderas (Gerente de Relaciones Institucionales) me escribe para presentar la conclusión de que “La filtración ocurrida el pasado 12 de marzo (…) no tiene relación alguna con la emergencia médica que se reportó en la localidad de Camaná”.

Parece claro como el agua, pero no es.

Qué falta explicar?

TGP es incapaz de decir cuánto tiempo duró la fuga. Al contrario de lo que me escribe Guarderas, esta no sucedió en el día 12 de Marzo. Tal fecha marca, apenas, el momento en que fue detectada por el “grupo de vigilancia de marcha lenta”. Qué es este grupo? Me responde una fuente de la empresa: “Son tres equipos que en los meses más lluviosos (Dic-Abr.) recorren el ducto a pie para detectar posibles fugas”. Cuántos kilómetros recorren por día? “Las condiciones en la selva son difíciles. No consiguen caminar más de 5 a 8 Km”.

Es aquí que surge la pregunta clave: después de pasar por un local, cuánto tiempo tardan en volver?

Aproveché la apertura del Gerente de Relaciones Institucionales, que se despidió “reiterando nuestra disposición para cualquier información adicional”: le hice la pregunta. Sin sorpresa, la respuesta nunca llego y por eso tuve que ayudarme de fuentes internas de la TGP, que son bien conocedoras de los trabajos en el terreno: “no menos de un mes”. O sea, el 12 de Marzo se detecta el incidente, pero el ducto podría estar vertiendo hace 30 días.

La primera muestra de las aguas es retirada a las 3pm del día 13, después de un periodo de grandes lluvias y ya con los trabajos de retención en curso. El líquido de gas natural es muy volátil. De acuerdo con uno de los documentos que la propia empresa me entregó, “pasado un período de cerca de 20 días los niveles de LGN sobre suelos y aguas están por debajo de límites aceptables”. Esto en aguas paradas, en las corrientes, una vez que se estanque la fuente de contaminación, el gas desciende a la misma velocidad del río y termina volatizándose. “La única excepción serán pozas que hayan a lo largo del curso del rio, porque el gas es más pesado que el agua y podría quedarse retenido en esos puntos”, me dice D de la ONG Z. Con todo, los locales de muestra están documentados fotográficamente y todos quedan en zonas de baja profundidad, mas allá de que las muestras fueran recogidas manualmente y, por lo tanto, siempre en la superficie.

Así, estando Camaná a 40 Kilómetros del punto de la fuga, hablamos de 4 a 8 horas para que deje de verificarse una contaminación que podría haber sido continua durante 30 días. Además, las muestras de peces fueron recogidas una semana después y, de acuerdo con el mismo documento, “los efectos negativos sobre las especies estudiadas son de corto plazo debido a la elevada volatilidad del LGN”.

Las consecuencias

Más allá de las intoxicaciones y de la posibilidad de haber provocado muertes en Camaná, una contaminación por gas natural puede tener graves efectos a mediano plazo, tanto en la salud humana como en la calidad ambiental.

“El impacto de un toxico en el ser humano depende de muchos factores”, me dice el Prof. C (Universidad Y). “Por ejemplo, en un niño es mucho más impactante que en un adulto. Además de las consecuencias de corto plazo, tenemos diversos problemas que podrán surgir en el mediano. Los bencenos (presentes en el gas liquido) son causantes de fibrosis pulmonar, hepatopatías crónicas y leucemia, entre otras patologías de tipo cancerígeno”.

Relativamente a las consecuencias en el rio Paratori, me responde D, especialista en Derecho Ambiental: “Un problemas de estos es mucho más grave que sus consecuencias inmediatas. En el inmediato provoca una disminución de la fauna, claro. Mas el principal problema es el impacto que una alteración en el equilibrio provoca en toda la cadena. La disminución de una especie tiene efectos prolongados en todas las restantes. Eso es lo que el estudio de impacto no analiza”.

En nombre de la verdad

No estoy afirmando que la transmisión de rabia no haya sido responsable por la muerte de los 7 niños. Después de oír a una especialista, hasta estoy seguro que al menos una de ellas (Laura) murió debido a la transmisión de esta enfermedad y que, con gran probabilidad, Medali también. Tampoco estoy concluyendo que la población se enfermó debido a la contaminación de los peces con que se alimentaban y del agua que utilizaban. La contaminación me parece obvia, pero la cuestión que suscito es otra: habiendo tan grandes intereses políticos y económicos, hubo una clara prisa en aliviar la tensión de la TGP y de rotular el problema de una forma poco o nada estudiada.


Fotos de Abril (1ª mitad):
 Comprueban harto consumo de pescado
 Se llegó a atribuir la enfermedad de la población a la desnutrición por haber dejado de consumir pescado con miedo que estuviera contaminado. En primer lugar no es creíble que una población se desnutra a ese punto por estar menos de un mes sin comer pescado, por muy importante que este sea en sus hábitos alimentarios, como sucede ser en estas comunidades. En segundo lugar, se por las personas con las que hablé en Camaná, que siguieron comiendo pescados, pero estos “estaban ácidos y sabían a petróleo”. A este testimonio acreciento registros fotográficos de Abril, que comprueban un consumo generalizado y abundante, aliado al de carne de gallina.


TGP demuestra una clara voluntad de decir que nada de esto está relacionado con la fuga de gas líquido, evitando responsabilidades criminales y civiles. No estoy aquí para hacer la apología de una o de la otra visión. Busco dudas y no respuestas, incertezas y no certezas. Y son muchas, las cuestiones que encuentro. Certezas solamente una: no puede el Gobierno o TGP asegurar que “la muerte de los niños en la comunidad indígena de Camaná fue provocada por rabia y no por la contaminación del agua por gas líquido”.

Una nota final para decir que, por vía de su gabinete de prensa, interpelé el Viceministro sobre las evidencias del caso: sigo esperando una respuesta que se que no existe.

Mientras tanto, en las márgenes del rio Paratori están sepultados siete niños y hay toda una población que fue afectada en su salud y que podrá sufrir graves enfermedades en el futuro. Esos niños y esa población merecen que se sepa la verdad, sea cual sea.

 
Merecen que se sepa la verdad, sea cual sea.

 CRONOLOGIA.

12 de Marzo:
Detectada fuga en el ducto que atraviesa la reserva Matsigenka
14 de Marzo:
Testigos oficiales detectan evidencias de la fuga.
13 de Abril:
Muere Edmer,14 años
17 de Abril:
Muere Ronilda, 12 años
22 de Abril:
Muere Lizardo, 11 meses
2 de Mayo:
Muere Naidua, 1 año
5 de Mayo:
Muere Isolde, 8 años
10 de Mayo:
 Es retirada una muestra del liquido Cefalorraquídeo de Medali, 9 años
10 de Mayo:
Con os mismos síntomas, la mama de Medali se hace un examen que tiene resultado negativo (el hecho de haber sobrevivido comprueba la conclusión)
11 de Mayo:
Conclusión del Instituto Nacional de Salude : “Presencia muy sugestivo de rabia” en Medali.
12 de Mayo:
Muere Medali (em Lima).
13 de Mayo:
Cadáver de Medali es embalsamado e enviado para Camaná.
20 de Mayo:
Muere Laura, 3 anos (en Lima)
22 de Mayo:
Vice-ministro de la Salude en el Congreso de la republica: “La muerte de los niños no fue provocada por rabia”.


Luis Novais