terça-feira, 30 de novembro de 2010

Morrerei ontem

Onde e quando
sou afinal?
Aqui agora sou.
Ali ontem estive.
Seria tudo, ontem.
Sou nada, hoje.
Voaria, ontem.
Rastejo hoje.
Sempr’a olhar
céu que brilha.
Mil voos imaginar.
Vivo d’ontem,
morro d’hoje.
Sonho amanhãs.
que serão hoje.

Que todos se fodam.

Morrerei amanhã, hoje.
Morrerei ontem, amanhã.
Mas morrerei.

Que se fodam todos.
Que se foda eu.


segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sorriso que eu sei.

Eu sei.
Eles não sabem,
eu sei.
Este sorriso meu,
sorriso chorado
que eu sei
que não sabeis.
Nele m’escondo:
finjo-me’esse mim.
Doce sorriso falso.
Tu m’aconchegas.
Suplantas-m’a dor.
Triste sorris’alegre,
que eu sei triste,
que sabeis alegre.
Porqu’eu escondo
o que d’eu sei
em sorrindo
ao que de mim sabeis

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Todos meus dias: dias tu.

Que são os dias?
São seus sonhos.
Que é o tempo?
É daquilo que vemos
tudo que guardamos.
Seja real,
seja aparente.
Mas sempre sonhado.
Mas sempr’o que vemos.

Nome tem agora
cada dia de meu tempo.
Que sonho e vejo,
que vejo e guardo,
o que te sonho,
o que te vejo.
Ilusão e real.
Verdade sempre:
porque sempr’a sonhar-te
Porque sempre a ter-te.

Queira ou não queira.
Eu.
Procure ou fuja
De ti
Todo tempo qu’é meu
Tempo é de nome teu.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Fazermo-nos. Existir.

Busco-me.
Não encontro.
Sigo sendo
esse alguém
dentro d’algo:
eu?
O quê?
(Trevas, nevoeiro.)

Sempre e sempre
seguindo e sendo:
esse eu;
que me pedem,
que m’exigem,
que não sei afinal.
(Escuridão maldita.)

E um dia,
de tanto caminhar,
por montes caminhar,
à chuva caminhar…
Ai nesse dia.
Nesse dia:
vejo-te.
Procuravas-te.
Encontro-te.
vês-te
És.
Sou.
Tu.
Eu.

E a ti logo me dei;
e tu deste-me mim.
E a mim tu te deste;
e eu dei-te ti.

Agora sabemos,
tu e eu.
Sei quem sou
sabendo quem és.
Sabes que és
sabendo que sou.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Mãos que se abrem acontecem.

Poderá
Definir-se
tempo e Ser?
Um instante:
o tempo.
Felicidade:
o ser.

Assim tal:
Ser sendo
nessa linha
que do tempo
é linha?

E por que não?

Se punhos
fechados
em mãos
abertas
se tornam.
Mãos tuas
se abrem.
Mãos minhas
também.

Aí.
Deixa-te.
Ai, aí.
Aí acontece.
Aí:
te acolho eu
Aí:
me acolhes tu.

Eterno, o tempo.
Ternos, eu tu.
E Ser sermos nós

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Rosa em malmequer

Fosse rosa
malmequer
bemequerer.
Amor:
liberdade
ir
regressar
regressar
sem ir.
Voltaria
livre fosse,
livre não sou.
Não ficaste:
tu.
Não parti:
eu.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Eu mar, areia tu.

Em ondas s’agitam,
mares se combatem,
marés se confrontam.
Calipsos, Polifemos;
de sereias canto seu,
titãs s’enfrentam.

Rude mar, rude mar.
Lutar lutar lutar.

E de tanto e tanto,
navegar navegar:
ao destino enfim;
praia onde s’espraia
e de si se faz teu.

De guerra eles foram,
d’amor já gritos são.
Suave que se vai,
suave que se vem.
Já da raiva espuma fez,
e já n’areia a serenar.

Doce areia doce:
tu.
Suave mar suave:
eu.













(Imagem: "Batalla en las nubes", Salvador Dali, 1974)

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Céu em espaço e tempo.

Olho
em volta;
julgo
ver.
Volto
a olhar:
não.

Penso
em torno;
julgo
saber.
Volto
a pensar:
não.

Penso
e vejo.
Dispenso
invejo
o que penso
ver,
o que penso
saber.

Vejo.
Penso.
Penso ver
tudo.
Vejo
nada.
Tudo
é nada,
nada é tudo.

Se vejo,
se penso,
s’o que vejo,
s’o que penso,
vejo
e penso
com tudo:
e sem ti,
contudo.

Diz-me:
onde
fica.
Diz-me:
quando
é.
O espaço,
o tempo,
o céu:
tu.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

D.

A primeira estrofe é do poeta Luís Ene. Uma amiga ma apresentou. E sem querer dei por mim a continuá-la. Levado por onde imaginação e desejo levaram. Foi estranha, a sensação que tive no fim. Estou habituado a escrever de mim para outras pessoas. Estou habituado a escrever para mim. Nunca escrevera como se escrevesse de outra pessoa para mim.
Obrigado ao Luís Ene que me autorizou tal abuso: começar a minha escrita a partir da sua. Assim me disse: “esteja à vontade, a poesia nunca precisa de autorização para acontecer.”


D.

“Despe-me
ou deixa que eu me dispa
e depois
veste-me
pouco a pouco de carícias.”

***

Olha-me.
Em meu corpo tu me vês
em olhos
vestindo
sofrimento que escondo.

Viste-o.
Ess’eu qu’eu tanto oculto.
Despe-te:
agora.
Pouco a pouco te vestirei.

Agora,
que já despido eu te hei:
visto-te.
Vestes-me:
tu, o que despida me hás.

E aí,
no toque de tua pele:
sinto-me.
Sentes-te:
em toque de pele minha.

E sou!
Porque minha a pele tua:
faço-me.
Fazes-te:
porque já minha tua é.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

AMAZONAS











Mole de água
desemprenhada.
Rio mar,
a guerreira
nome buscar:

AMAZONAS

Onde desta força:
gente poema faz.
Onde em poema:
força gente tem.

Mistério;
mãe d'água
mãe de vida,
equilíbrios
constantes,
em natureza
que se fez homem
que se fez mulher.
Em homem
em mulher
natureza feitos.
Onde mistério vida
a quem olha nega,
a quem vê mostra.

E a mim me mostrou.
E a mim me mostrou.
AMAZONAS