quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Brisa vent’é qund’sol serena

Brisa vent’é qund’sol serena

Quisera ficar completo,
em metade de inteiro.
Essa metade eu fosse,
em meio ser eu coubesse.

Meia mulher teria,
C’a meia amante completa.
Meio pai também:
meia labuta tem de ser.

Oh, que unidade ser meio.
Meio de meio entender.
Meio pensador, poeta até.

Mas meio é-me pouco.
Quero ser por inteiro.
Inda que de meio louco,
louco inteiro acab'eu

Inda assim que louco seja.
Marido , pai e poeta.
Mas nad’e nad’em meio,
tud’e tudo por inteiro.

Será possível ou quimera?
Tantos são os elementos:
(quimera s’assim é)
Brisa vent’é qund’sol serena:
(possível se assim seja)

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Moinho e Vento

Moinho e Vento

Que dor é esta, amor.
Dor é de lembrar,
dor de esquecer
o que lembrado é.

Sei-te quem sejas, amor.
Quem sou não sei.
Só sei de mim em ti.
Só de ti em mim sei.

S' em ti busc' o que sou.
Em mim sabes qu' és.
De nós brotou mim ti.

Se mim em ti porquê?
Se fruto nosso.
Querido fruto.
Amada tu.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Remédios.

Mataram-me.
De parto brotei,
d’escola morri:
cidadão me fizeram.

Perguntaram-me?
Não. Quiseram fizeram.
E mataram-me.

Não me quis sabedor.
Sabedor me tornaram.
Só e só queria sentir.

Mas comigo não!

Quero meu parto.
Quer’a nascer voltar.
Quer’ ignorar e sentir.
Quer’ à escola fugir.

Morra bem mort’ o saber.
Saber qu’ocup’ o que sou.
Saber falso e não sentido,
não sentid’e sem sentido.

Mataram-me.
Remédios haverá?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Creio em ciência teorias e lei

Creio em ciência, teoria lei:
Particular geral
diverso d’ uno.
Ensinaram-mo: “crê” e eu creio

Creio bem sabendo:
crendo-‘a mato.
Matá-la quero:
crer preciso.

Gent’à lei sumetemos,
crença velha renovamos:
Destino

Feridos de ciência que’stamos,
do destino descremos.
Mago destino: liberdade compra.
Mago destino: com inocênci’a paga.

Quem d’inocente se troca livre?
Antes sem culpa qu’arbitrar.
Roubaram-no: só culpa ficou

Eu não qu’eu creio na ciência,
porque crendo por crenç’a mato.
Porque suas leis rezando (teorias),
fado qu’é meu alcanço.

Assim sem da fé sofrer Auto,
à “santa” sem ofens’a matar.
Nessa lei que geral dizem,
inocência minha destilar.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Corrompidos Restos

Antigamente eram os construtores os que tinham fama de corromper. Corromper é sempre corromper. Mas sempre era um corromper para construir.

Agora são os sucateiros. Já nem para construir se corrompe. Corrompe-se tão só para levar os corrompidos restos.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Inexistêncial.

Tantos são que dizem
qu’esse que digo outro,
visão é de não mim
por existencial de mim,

que para mim olho
e de mim me temo
que mim afogue mim.

Mim serei eu; sou!
Mas mim será outro?
Então que mim serei,
s’outro se faz mim?

De mim quero ser Ser,
que mim não será,
quem si Ser quer também.

E sendo mim Ser.
E Ser sendo si.
Mim é si por Ser.
E si por Ser é mim.

Filosofal Pedra

Do tanto muito que penso,
tod’a sua origem ignoro.
Origem de pensamento “eu”,
ou pensar q’a mim cria?

Vej’o Mundo vendo-me
e vendo-me par’o ter:
por cosmos troco mim:
cego me vejo par’o ver.

Acontece quando cego sou:
idei’acontece: idei’apenas.
cegueira? Sombra sem limite.

E é então que sorrio; descanso.
Podend’a pedra ser filosofal (ela),
pod’a filosofia ser pedra (eu)

domingo, 1 de novembro de 2009

A Voz

Quand’em fundo silêncio,
vinda do longe ouço
voz forte que fala
e ordenante m’ordena.

Não sei que voz seja:
Se voz minha feita mim,
s’alheia voz, feita de quê?

Sei q’a ouço, isso sei.
Sei q’ordena, isso sei
Sei o quê, sei também.

Em sua força me diz: “Vive!”
E eu não sei o que seja:
Se voz da q’é natural,
se precedente imaterial